A incerteza é nossa disciplina

As notícias e conversas, hoje, nesta semana e nos últimos meses falam de hipóteses sobre o mercado financeiro, sobre o futuro dos jornais, sobre o motivo do desaparecimento do avião francês, sobre o aquecimento global etc. etc. Mais do mesmo. Especulação rende pauta, tanto quanto constatação, seja para o jornalismo noticioso ou só para uma fofoca breve.

“A lógica do cisne negro. O impacto do altamente improvável”, livro de Nassim Taleb,  que leio a conta-gotas, fala sobre a inutilidade de certas previsões baseadas no cotidiano. Com base nisso, podemos dizer que há muita conversa jogada fora sobre conjecturas postas em debate.  Diante de prioridades, leio devagar. Ainda estou na página 100 de umas 400, de modo que não posso falar muito sobre ele, apenas que foi difícil chegar até tal página..rs.

Na página 93, começam citações ao filósofo Karl Popper e o seu princípio da falseabilidade. Taleb diz que podemos aprender muito a partir de informações, mas não tanto quanto esperamos. Às vezes, um único dado pode ser muito significativo, enquanto uma coleção deles pode não ter sentido para um contexto. E Popper dizia que uma teoria científica nunca poderia ser provada como verdade, mas que poderia ser refutada, falseada. Apenas teremos certeza do que não é verdadeiro, mas nunca da verdade em si, da qual apenas chegaremos perto.

Sempre achei que Popper pertencia aos livros e às aulas de filosofia da ciência. Mas  acabei de perceber que ele é querido por escritores que falam de mercado!

Meu namorado leu  “Sobreviva na bolsa de valores”, de Maurício Hissa, e comentou que o autor também falava de falseabilidade. Eu fui ler a página 191 para me certificar: estava lá de uma maneira objetiva e resumida a teoria do filósofo austríaco. Pois é, jamais pensei em encontrar um pensamento sobre a validação do conhecimento científico em livros de negócios.

Fica valendo, para mim, a ideia do inesperado, que se confronta com os (meus) limites do conhecimento, hipóteses  e “achismos” comuns sobre qualquer coisa. Ou seja,  na dúvida, observe mais e fale menos.  Muitas vezes, a gente esquece disso.

Empresa contesta pesquisa

No mês passado, um vazamento de resíduos químicos provenientes do refinamento de bauxita pela empresa Alunorte, instalada em Barcarena-PA, contaminou  mais uma vez o rio Murucupi.  O resultado foi o aumento de mortandande da fauna aquática e  a tranformação da água em um líquido avermelhado.

O recém-publicado laudo do Instituto Evandro Chagas sobre a contaminação é contundente: “Afetou o meio ambiente de forma significativa. Os riscos existem para todos os seres vivos que têm relação com o rio, incluindo o homem”. Mas,  mais uma vez, a resposta contestadora da empresa é construída sobre uma deslizante redação de relações públicas: “as operações de beneficiamento da bauxita da Alunorte estão rigorosamente dentro dos padrões estabelecidos pela legislação ambiental (…) o acidente foi provocado por um fenômeno da natureza”.

Uso o discurso da empresa para perguntar: isso acontece porque   “a  obsessão pela preservação do meio ambiente é um dos valores da Alunorte”? ou   são seus  “Pequenos e grandes gestos que fazem de Barcarena um lugar melhor para se viver.”?

Quantas repetições de acidentes e laudos serão necessários para que os órgãos fiscalizadores tomem providências que protejam a comunidade?

=>Veja no  Quinta Emenda e no VioMundo mais sobre o laudo dos pesquisadores  e a resposta da Alunorte. E veja no Pérolas das assessorias, pérolas de outras assessorias.

A saúde que importa aos laboratórios

Duas informações complementares sobre saúde publicadas hoje. A primeira na página de  saúde do Estadão:

1) Falta verba para estudo de doenças que afetam países pobres

Infelizmente, nenhuma novidade nesta manchete. A informação interessante da matéria, por mostrar algum sinal de preocupação,  é:

“Pela primeira vez um trabalho revela o valor aplicado em pesquisas sobre doenças negligenciadas no mundo.” (AE)

A segunda notícia está na página de  tecnologia do G1. E admito que gostei da pegadinha usada pelo Sr. Gates.

2)  Bill Gates solta mosquitos em conferência para alertar sobre malária

” ‘Essa doença se espalha através de mosquitos. Vou deixar alguns voarem por aí. Não há motivos para apenas as pessoas pobres serem infectadas”, afirmou durante o evento, que atrai profissionais da indústria de tecnologia, entretenimento e design. O co-fundador da Microsoft esperou algum tempo em silêncio, para depois dizer que aqueles mosquitos não eram capazes de transmitir malária.

“Há mais dinheiro sendo investido em remédios contra calvície do que no combate à malária”(…).. “Calvície é algo terrível, que aflige homens ricos. Por isso, esse assunto se tornou uma prioridade”, ironizou um dos homens mais ricos do mundo. ‘ “(G1)

+  sobre o tema: livro  “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos” – de Marcia Angell.

Breves verdades sobre a rede

Daniel Bergamasco, da Folha online, entrevistou Chris Dewolfe, um dos criadores do Myspace.com Ele fez previsões para o futuro da internet e falou algumas coisinhas sobre a instalação da empresa no Brasil. Recortei duas perguntas-respostas:

Duas greves paralisaram recentemente Hollywood e Broadway, enquanto a internet colocava no ar produtos de entretenimento de sucesso feitos por amadores. A internet vai acabar com as empresas de entretenimento?

DEWOLFE – A mudança que aconteceu no mercado de música está acontecendo agora na área de vídeo. Você vê novos videomakers surgindo, produzindo porções de conteúdo sem muito custo e tendo também sua base de fãs. Pode ser um caminho para testar um show de televisão e cinema. É tão caro criar um piloto hoje em dia, mas é barato criar cinco episódios de três minutos de um novo show para internet e ver se as pessoas gostam. Hoje, apenas 10% dos pilotos acabam rendendo algo que vai ao ar. E você vê a mudança que aconteceu agora com as eleições [primárias, para presidente dos EUA]. Todos os candidatos têm um perfil no MySpace. [meu comentário: é óbvio que a indústria do entretenimento não vai acabar, mas adaptar-se a novos conceitos de produção.]

FOLHA – O que é preciso para trabalhar no MySpace?

DEWOLFE – Nós só contratamos gente que é grande usuária do MySpace e apaixonada pelo produto. Quem não está no MySpace não conseguiria entender direito a dor de um recurso não funcionando direito, por exemplo… [É isso aí! O que digo sempre para algumas pessoas que “são fascinadas” por um assunto específico (cinema, moda, política etc.) é: não adianta querer trabalhar com qualquer tipo de informação, se vc não é usuário assíduo dela. Mas não é bom só consumir, mas sim olhar com cuidado de examinador-aprendiz.]

Clica aqui pra ler a entrevista completa.